“Sujeito duplicado”: o vício de linguagem mais comum da atualidade

Arrepio de indignação e até de incompreensão clara da língua ao perceber o lamentável equívoco que vem sendo cometido no discurso geral.

As pessoas falam o nome, seguido de pronome. Acabam gerando uma duplicidade de sujeitos na oração.

Comecei a perceber o vício em casos isolados de repórteres de televisão, sobretudo na transmissão local, mas com alguma ocorrência nas transmissões de caráter nacional.

Depois a coisa viralizou, vulgarizou e atingiu dimensão generalizada, em todos os níveis sociais e culturais.

Tenho visto repórteres, atores, políticos, médicos e cientistas – muito presentes na telinha durante a cobertura da pandemia – quase todos, de forma generalizada, como que incorporando à língua portuguesa essa construção sintática que estou chamando de “sujeito duplicado”.

Tristeza!

Eu nem queria escrever exemplos, evitando de toda forma a propagação dessa aberração. Mas para quem ainda não percebeu, faço referências reais, capturadas agora há pouco, pois basta ouvir qualquer programa de TV durante meia hora para ser obrigado a ouvir estas tristes formas de expressão.

Do apresentador do jornal matutino: “O Rio Grande do Norte, ele está no topo da lista…” “A pandemia, ela ainda não acabou…” “O suspeito, ele foi detido por populares…”

De um médico infectologista entrevistado: “O Brasil, ele se destaca no cenário…” “O insumo, ele vem da China…” “A vacina, ela está sendo aplicada…”

Comentarista internacional: “O Presidente Biden, ele prestou juramento…” A segurança, ela foi reforçada…”

Nem precisaria lecionar sobre o assunto, mas tenho que reforçar: o pronome substitui o nome para evitar repetições ou para reforçar o sujeito do discurso quando a referência a ele tenha ocorrido remotamente.

Estudamos as formas de sujeito simples, composto, oculto, indeterminado… para referir-me a esse assassinato da língua, estou cunhando o apelido de “sujeito duplicado“. (se bem que não deveria “brincar” com essa infâmia).

Surpreende ver pessoas de elevado nível escolar utilizando essa triste construção frasal. Sinaliza, para ouvidos treinados, seu pouco preparo cultural, pois não há possibilidade de tal vício ser introduzido naqueles de formação sólida, vez que nem precisa racionalizar a construção do discurso vez que a língua mãe flui com naturalidade.

Mas tal naturalidade carrega e revela, tanto acertos, quanto vícios.

Eu ia concluir dizendo que “só tenho a lamentar”. Mas, não! Esse próprio registro é uma forma de tentar envergonhar os incautos, impondo um autopoliciamento para que parem de falar besteiras.

Meus ouvidos – que já não aguentam mais – agradecem!

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